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Jornais, jornais e jornais
03 de janeiro de 2001
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Bem, tudo começou em 62, quando apareceu aquela merda no jornal chamada "Conceição, a Bruxa Lagoa". Era uma dessas novelas de folhetim que costumavam sair naquela época, acho que pouca gente de hoje lembra disso ou sequer sabe que a história de Conceição veio daí, mas o lance era o seguinte: todo dia soltavam um pedaço da história no jornal, e as pessoas acompanhavam aquilo como se fosse uma série de TV.
Eu li aquilo e logo pensei "Tem algo de errado nisso aí", pq sabe, eu sou bicha velha nessa vida e já vi muita coisa, eu geralmente sei de cara quando alguma parada é ficção ou quando o buraco é mais em baixo.
Mas acima de tudo tem a coisa mais importante: Eu já tinha ouvido falar de Conceição. E eu sabia que, mano, na moral, isso ia dar uma merda das grandes.
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Existem algumas coisas que vcs precisam saber sobre Conceição e sobre Peri: esses dois são as pessoas mais dramáticas que vc vai conhecer na vida, eles vivem como se estivessem numa peça de Shakespeare ou numa novela Mexicana. O foda da situação é que realmente as coisas que aconteceram com eles são dignas de uma boa novela, dessas com vilões dramáticos, reviravoltas malucas, famílias disfuncionais, amores proibidos etc. O pacote completo.
Eu tinha voltado pro Brasil há poucos meses e tava me habituando de novo aos abraços calorosos, dias quentes e trepadas intermináveis em bares sujos. O mundo tem muitos lugares incríveis, mas eu digo pra vcs: nada supera o que a gente tem aqui no Brasil. Foi uma época estranha pq eu tava sentindo isso mas logo depois começou aquele período que vcs bem sabem, o de 64. Isso é uma escrita pra outro momento, mas pensem só comigo o caos que foi lidar com essa situação da novelinha de jornal junto com a porra de uma ditadura militar. Eram humanos carregados de banalidade de um lado, criaturas místicas surtando do outro, bruxas tradicionalistas querendo guerra civil, simplesmente o caos na terra.
E no meio disso tudo, lá estava eu: um cara que não era realmente um cara, uma mina que definitivamente não era uma mina, tentando ficar numa boa enquanto via o circo pegar fogo. Eu tava muito mais interessade em participar dos protestos na rua e ficar papeando com as putas até tarde da madrugada, mas os assuntos de ordem mística estavam me chamando e eu realmente não podia ignorar. Hoje em dia, aqui na internet, eu meio que tô pouco me fodendo pq acho que todo mundo deveria saber mesmo do que acontece, mesmo que tasquem como ficção (vcs sabem que na real isso tudo é papo furado meu, né?) mas naquela época definitivamente o cenário era outro.
A novela de folhetim funcionava porque ela parecia DE FATO ficção. E todo mundo comprava como ficção. Aí é que entram as loucuras da vida. O que achamos que é ficção não é tanto assim, o que realmente é, acaba não sendo. Um nó na cabeça digno de um livro do Gabriel García Márquez. E se tem uma situação baseada em realismo mágico, era essa.
O tempo foi passando e transformaram aquilo em mil coisas: uma série de rádio, alguns contos em um livro, poemas, músicas, peças de teatro e principalmente em uma lenda da cidade. A Lenda da Bruxa Conceição, a mais famosa, obviamente.
Aqui nesse blog eu vou falar sobre a minha estadia em Desterro de 1962 até os dias de hoje. Muita coisa aconteceu, como vcs devem imaginar. E aqui fica o livre-arbítrio do público: leiam como ficção, como quase-ficção, como realismo, realismo mágico, o que quiserem.
E lembrem: Não levem a vida à sério.
Afinal, a realidade é muito mais do que parece ser.
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