DESTERRO

Avisos aos desavisados

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Existe uma ilha no sul do Brasil. Você sabe muito bem de onde se trata.
Desterro tem uma camada de verniz em cima que parece coisa de novela das seis: rendeiras de branco, água de coco, pôr do sol em cartão-postal. Mas por baixo disso tem lama, pacto quebrado, ossada de bicho antigo, e um cheiro de vela queimada que nunca sai das paredes.
Eu tô te dizendo isso porque você precisa saber no que tá se metendo. Se você chegou aqui procurando “turismo esotérico” ou achando que ia encontrar um post bonitinho com dicas de trilha, vc ta no lugar errado. Vai tomar um banho de sal grosso e volta pra ver novela.
A verdade é: essa cidade fede a sal e feitiço.
Mas do tipo de feitiço que te come por dentro devagarinho, sem glitter e sem trilha sonora bonita.

É claro que tem os lados bons também, assim como tudo no mundo. A medida que a gente vai envelhecendo, descobrimos que toda parada realmente boa tem uma sombra meio monstruosa. Desterro chama as pessoas, tem gente que vem pra cá uma vez, larga tudo e fica aqui pra sempre. É um lugar encantado, mas não do jeito dos contos de fada bonitinhos. Afinal, você já conheceu uma criatura feérica pessoalmente? Um breve conselho de alguém com experiência: tome cuidado com elas, por mais que pareçam ser a coisa mais incrível que você já viu na vida.

Em resumo, ninguém vem parar aqui por acaso. A gente é jogado. Mandado embora de outros lugares. Exilado pra dentro da névoa. O nome já diz: lugar de exílio, de gente torta demais pra viver na terra firme.
E olha que nem tô falando só de bruxa, lobisomem ou criatura encantada. Tô falando daquele grupo que se escondeu dentro da mata. Do corpo que sumiu em 1974 e nunca mais voltou. Dos malucos que começaram a ouvir vozes no vento e nunca mais conseguiram dormir em paz.
Eu conheci todos eles. Alguns me amaram. Outros tentaram me matar. Teve um ou outro que fez as duas coisas ao mesmo tempo.

Eu tenho as minhas próprias teorias do porque isso tudo acontece. Essa teoria começa com “A” e também termina com “A”. Eu ouvi falar que vão construir um bar em cima dessa minha teoria inclusive, o que eu to pagando pra ver.

Se mesmo com tudo isso vc quiser vir pra cá, fique à vontade. Dá uma olhada nas paredes do centro e de outros cantos da ilha.
Provavelmente vais encontrar meu nome por aí.


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