O CABARET DELIRIUM

Ou então "Como eu conheci Misster Vaudeville"

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Esses tempos recebi um convite desses que faz você torcer um pouco o nariz. A real é que o evento em si normalmente eu acharia muito foda, mas quando vi a assinatura escrita "Misster Vaudeville" eu já entendi que poderia ser encrenca. Por que caralhos um ser feérico convidaria um bruxo pra um ritual-espetáculo? Parece um tiro no pé.

O convite era pra um tal "Cabaret Delirium" e nele já dizia sem rodeios que se tratava de um espetáculo feito por criaturas feéricas. Eu vou dizer pra vocês, é preciso ter um nível específico de coragem ou loucura pra se expor desse jeito, mas como eu to aqui escrevendo publicamente na internet sobre tudo acho que não tenho nenhum parâmetro de julgamento de qualquer forma.
Foda-se, eu fui.
Tirei uma noite da minha semana e fiz uma máscara disforme de papel machê, coloquei minhas roupas normais e um sobretudo verde por cima, pintei a máscara de azul com detalhes em vermelho. Fiz um feitiço de proteção. Chegando lá, quase todo mundo tava mascarado e a minha vontade era soltar umas boas risadas ao encontrar algumas outras criaturas sobrenaturais, mas eles são espertos porque sabem que não podemos fazer nada demais nesses espaços públicos tão cheios. Tinha um monte de humano junto, alguns de máscara, outros sem. Riam, bebiam uns drinks, se empurravam pra tentar encontrar um lugar pra ver melhor o palco. Era um bar meio anos 20 aquele lugar, e logo na entrada eu já vi que havia uma série de objetos quiméricos expostos: bichinhos de pelúcia modificados com vários olhos, dentes horrendos, tutus circenses em seus pescoços e tiras de couro em seus corpinhos felpudos embebidos numa quantidade absurda de sonhar, puta que pariu, eles realmente não ligam pra nada. Eu ria mais, não tinha oq fazer além disso.

O espetáculo começou com luzes azuis e magenta, às vezes laranjas, aquela criatura entrou no palco e começou a falar com o público todas as verdades secretas que as bruxas tradicionalistas gostam tanto de esconder. Era um ser alto de pernas compridas, cara branca e colorida, cabelo cor-de-rosa todo pra cima numa espécie de moicano-núvem, tinha uma roupa bem extravagante com penas pretas pra todo lado.

Tudo aquilo funcionava perfeitamente porque era como se fosse uma peça de teatro, então o público comprava como uma história maluca feita por humanos excêntricos. Eu tava lá no fundo observando, vendo criatura pós criatura entrar no palco, performar umas coisas bonitas e estranhas pra se alimentar do sonhar de toda aquela gente. O próprio Vaudeville disse no início que todos ali eram o banquete deles, até falou como eles se alimentavam. Lá tinha uma criatura de mil olhos que controlava um ser flutuante meio dragão, um maestro que controla humanos como fantoches, faes contorcionistas, uma bacante, um pooka-felino que se pendurou com cordas no teto, um ser que costurou a própria boca e fez acrobacias logo em seguida e até mesmo uma fae-pássaro-morto tocando piano psicodélico que claramente tava usando encantamento no público todo.

Vaudeville até levou os próprios familiares pro palco pra apresentar. Quando eu vi aquelas criaturinhas meio-animais vestindo couro e flutuando em volta do chicote delu, eu não consegui acreditar. Que tipo de criatura doentia consegue criar uma relação sadomasoquista com seu próprio familiar? Isso faria qualquer bruxa ou mago revirar o estômago e talvez até vomitar só de ouvir falar sobre, mas a conclusão que eu cheguei no final da noite simplesmente foi:

Eu preciso ficar amigo desse maluco.


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